Uma análise pedagógica sobre Assassination Classroom

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Com a publicação do ultimo capítulo de Assassination Classroom (ou Ansatsu Kyoushitsu para os japas), resolvi montar aqui um especial analisando os métodos de ensino aplicados na série, tanto por parte do diretor como por parte do próprio Koro-sensei.

Primeiramente: Essa é uma análise de um licenciando, não é nada oficial ou que deva ser considerado como algo completamente correto. Se encontrar algum furo ou algo que esteja confuso, escreva um comentário e vamos conversando aqui em baixo.

Antes de ir para a análise, se você não sabe o que é Assassination Classroom, a pouco tempo publiquei aqui uma resenha sobre a obra, sugiro que a leia clicando aqui. A obra apresenta uma crítica ao sistema educacional japonês, mas que pode muito bem ser trazida ao sistema educacional aqui do Brasil (que é a base que vou levar aqui, afinal é o país onde moro). 

No ensino atual aqui no Burajiru é possível notar um grande descaso entre professores e seus alunos, e entre o próprio estado e suas escolas. Os professores focam na "transmissão de conhecimento" para seus alunos, obrigando-os a decorrer toneladas de conceitos para os devolverem de forma "vomitada" nas provas. Isso faz com que aqueles alunos que não se adaptem sejam excluídos na própria sala de aula - em algumas escolas particulares vemos esses alunos serem excluídos sendo retidos nas séries, enquanto em escolas estaduais do estado de São Paulo (o casa que tenho alguma vivência) os alunos não são reprovados pela progressão continuada, mas permanecem excluídos.

Na escola de Assassination Classroom, temos uma situação extrema de exclusão. Aqueles que não apresentam boas notas, ou que não cumprem as regras vão parar na sala 3-E, conhecida como a sala dos perdedores. Além de existir a exclusão comportamental, com as famosas zoeiras entre os alunos "superiores" com aqueles "perdedores", existe uma exclusão física. A sala 3-E fica em uma cabana distante do prédio principal do colégio no meio de uma montanha cercada por uma floresta.

O pessoal posando perto do prédio no qual estudam.
Segundo o próprio diretor, essa exclusão aumenta em números absurdos a aprovação de seus alunos. Enquanto alguns alunos ficam com sua auto-estima destruída, todos os outros alunos e alunas se esforçam mais do que o normal para não cair na famigerada classe E.  Em seu pensamento temos algo próximo de "alguns alunos já reprovam naturalmente, qual o problema de usar eles como exemplo para os demais?".

Outro tópico que podemos relacionar com a educação nacional é a importância dada para as provas aplicada todos os fins de período (bimestre, trimestre, semestre...), sendo representadas na obra como uma batalha entre os alunos e diferentes monstros criados pelos professores a mando do diretor. Esse tipo de avaliação prevalece por aqui, diferentes alunos percebem suas provas como obstáculos que os professores preparam para ver se eles sabem exatamente o que o lhes foi "passado", ou as vezes,  para impedir seu progresso para a próxima etapa.

Uma das representações das provas semestrais.
Algo que geralmente deixam passar é que conhecimentos não são transmitidos do professor ao aluno como ocorre com o seu computador quando você está baixando aquele Torrent maroto. O processo de ensino ocorre com a construção do conhecimento por parte de cada aluno de acordo com suas experiências e conhecimentos anteriores. E diferente do que se imagina, não é um processo que vai de professor para aluno, e sim de professor para aluno, e aluno para professor. Ambos aprendem durante essa interação.

As coisas começam a mudar quando o Koro-sensei inicia suas aulas. Podemos fazer uma comparação com o tipo de ensino desenvolvido pelo polvo superpoderoso com o desejado pela base da escola traçando um paralelo entre suas aulas e as aulas aplicadas pelo diretor em determinado momento do enredo. Enquanto o Koro-sensei utiliza de sua supervelocidade para desenvolver atividades variadas de acordo com o perfil de cada aluno, focando em seus pontos fortes e fracos em cada disciplina, o diretor aplica um método oral (sem sacanagem, seu mente suja) que faz com que todos os seus alunos sejam obrigados a ouvir diretamente um conteúdo conceitual pesado, fazendo com que seus alunos se tornem "zumbis" levados ao cansaço.

Atenção individual do Koro-sensei tanto nos estudos, quanto no assassinato. 
Enquanto o direto leva a "transmissão de conhecimento" para outro nível.
No próprio anime/mangá podemos ver a diferença entre ambos os métodos. Em certo momento tanto a classe A (como imaginado, a "melhor" da escola) como a Classe E disputam para ver qual teria um número maior de alunos no Top 50 de notas em sua prova semestral, na qual, (um pequeno spoiler) a classe E sai como vencedora. Na obra dizem que os alunos da Classe A perderam pelo diretor não ter ensinado a "sede por sangue" logo de início, diferente do que aconteceu com a Classe E por ter lidado por tanto tempo com o assassinato. Mas acredito que o tenha criado essa diferença foi justamente a forma como Koro tratou a individualidade de cada um de seus alunos durante a aula.

O resultado do método tradicional (tirando essa sede pela morte de outra classe).
Podemos modificar essa "sede de sangue" por um pensamento mais crítico. Enquanto os alunos da Classe A foram obrigados a decorar aqueles conteúdos, os da Classe E aparentemente desenvolveram um pensamento reflexivo que os possibilitou um melhor desempenho na realização das atividades. Koro fez seus alunos pensarem por si só, o Diretor fez com que seus alunos "decorassem" aquele conteúdo.

Acredito que, apesar das avaliações aplicadas no decorrer do mangá sejam completamente tradicionais, é possível desenvolver um paralelo que crie uma própria crítica a esse sistema falho. Podemos colocar o prêmio em dinheiro e o peso de salvar o mundo como um paralelo às notas: ambos criam uma motivação completamente artificial em relação aos estudos. "Vou estudar para tirar 10". "Vou estudar para conseguir realizar o assassinato, ficar rico e salvar a Terra". Apesar de apresentar uma questão nobre (afinal de contas, querem salvar seu planeta), não existe uma motivação pelo conhecimento em si. No decorrer dos meses é possível notar que os alunos ficam mais motivados com o próprio conhecimento e com os métodos aplicados pelo professor do que com o assassinato.

É possível concluir que Koro-sensei ensinou aos seus alunos muito mais do que assassinato e conceitos. Apesar de uma avaliação obrigatória aplicada pela escola com baixa efetividade, seus métodos pessoais conseguiram fazer a diferença em sua sala de aula. 

O ensino atual precisa de mais "Koro-senseis", de docentes que se preocupem com a individualidade de seus alunos e que pensem fora de suas caixinhas, sendo ou não polvos amarelos que voam em Mach 20. É necessária a preocupação com a construção do conhecimento por parte de cada um de seus alunos independente da forma como a escola em si trate a pedagogia. Assim como acontece na obra, o professor deve realizar aulas que sejam o melhor para o processo ensino-aprendizagem e que ainda assim respeite cada um de seus alunos, mesmo que tenha que ir contra seus superiores.  

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