Parte da Entrevista - "Conversações com o poeta Marcelo Ariel - Primeira Parte"

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Nós, do Mochileiro das Quebrada, selecionamos algumas perguntas da entrevista feita pela nossa colunista Melissa ao poeta Marcelo Ariel, em seu blog O ser das coisas sem nome, onde você a encontra na íntegra.


Marcelo, você tem fé no que escreve?
 A fé segundo os antigos e isto  foi anotado por John Ruskin, é profecia, poesia e religião ao mesmo tempo. Para mim é apenas ação, uma ação que não precisa de motivo como a criação do mundo, a respiração ou a alegria de ser, que é maior do que a vida a e morte, ou a alegria de viver que é um mistério onde cabe você; seja você quem for; escrevo porque tenho fé na continuidade de uma gratuidade.

Como sabemos, seu último lançamento foi o livro Encontros Gilberto Mendes, e o que te leva a dar continuidade à escrita, seria por um dever de continuar sendo escritor ou uma necessidade de escrever sobre algo que te instigue?
 Sim, Encontros Gilberto Mendes é uma compilação de entrevistas do Giba, o profundamente romântico compositor santista que considero tão grande quanto Beethoven; o que sinto, não sei nada apenas sinto, o que sinto é que escrevo contra a morte e a morte rege o nosso mundo, principalmente a morte do sonho, que é mais real do que a realidade; a morte do amor absoluto que exige a vida fora do eu e contra a morte da fé no ser humano, é isso, escrever é escrever contra, alimentar o sonhar transparente com o mundo, os seres transparentes são extraordinariamente mais reais do que a morte.

Até aonde  o estado de espírito pode alterar uma obra? Você considera suas obras/ livros partes dos momentos em que passou, ou elas são expressões permanentes em você de outros estados?
Existe um 'comunicar que é permanente', vem do Daimon, das vozes das coisas, não conceba os momentos no sentido temporal-cronológico, porque o tempo onde vivo e me comunico com o que é um bilhão de vezes maior do que eu é o que poderíamos imaginar como eternidade, não existe permanência, apenas continuidade e todo o resto é o mistério de respirar, o espírito, aliás o espírito não é nada sem o corpo.

Quais poetas/ escritores você considera que chegaram ao cume da dedicação e amor necessário para compor uma obras?
 Os poetas são o poeta! Só há um poeta no mundo e é o próprio mundo. O amor é um espaço infinito, intocável  para a morte e o tempo cronológico, imagina que Shakespeare somos todos nós; que Shakespeare é 'o deus'; mas isto é uma visão demasiado limitada. Há o poeta sem nome que é o 'deus do deus' de Shakespeare! Em algum lugar da África, no fundo do oceano, dentro do sol!

Qual será ou serão os seus próximos empenhos e trabalhos, e qual o intuito de faze-los?
 Viver a vida como um poema; dois livros acabaram de acontecer: O livro das árvores que deve sair pela Pharmakon e O rei das vozes enterradas que sairá pela editora Córrego. O antes e o depois são ilusões da permanência, só importa a continuidade do agora. Sempre irão existir um agora e um aqui principalmente sem a nossa presença, por que o infinito vive e respira e é! Mas nós ainda não somos.



Sobre Marcelo Ariel:
Poeta, performer e dramaturgo, nasceu em Santos, em 1968 e vive em Cubatão. Leitor e amante do inglês William Blake e o português Herberto Helder, investigador da realidade através de magia, astrologia, taoísmo, budismo e cinema. Marcelo Ariel já publicou diversas obras, entre elas, estreou com o livro de poesias Me enterrem com a minha AR-15 (Dulcineia Catadora, 2007); depois lançou Tratado dos anjos afogados (Letra Selvagem, 2008)Conversas com Emily Dickinson e outros poemas (Multifoco/Selo Orpheu, 2010), A segunda morte de Herberto Helder (2011), Retornaremos das cinzas para sonhar com o silêncio (Editora Patuá, 2014) entre outros. É considerado por muitos críticos um dos mais importantes poetas da nova literatura e sem dúvida é. 


NA MORTE

Na morte
o núcleo do silêncio
onde logo estaremos
uma vez dentro
sim é não
e não é nada
os de fora dizem
morremos
não podem ouvir nossa voz
num sussurro dizendo
tudo está em nós. - (Tratado dos anjos afogados, 2008)


Para saber mais, clique em O ser das coisas sem nome.


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