Ana Cristina César - O impacto do que é corriqueiro
Poeta, tradutora e crítica literária, Ana Cristina César - uma das minha deusas coroadas da literatura, é uma carioca nascida no dia 2 de julho de 1952, que por volta dos sete anos de idade já escrevia poemas, mas realmente se destacou na década de 1970 na geração mimeógrafo, porém desde então, também tem seu nome lembrado junto ao movimento da Poesia Marginal. Fez intercambio à Londres e quando retornou ao Brasil cursou letras na PUC-RJ. Mais tarde, traduziu e escreveu para jornais e revistas para sobreviver. Em 29 de outubro de 1983, Ana C. se suicidou, deixando toda sua obra a cargo do poeta Armando Freitas Filho.
Bom, isso daqui é só para te deixar com uma pulguinha atrás da orelha e um gostinho de quero mais, e quem sou eu para dizer realmente a qual movimento seu nome deve estar atrelado, e muito menos dizer sobre sua vida e sua personalidade, prefiro deixar a cargo de seus poemas que fundem ficção e confissão, com uma voz punk e feminina falando sobre temas totalmente corriqueiros, como por exemplo, sexo.
Anônimo
Sou linda; quando no cinema você roça
o ombro em mim aquece, escorre, já não sei mais
quem desejo, que me assa viva, comendo
coalhada ou atenta ao buço deles, que ternura
inspira aquele gordo aqui, aquele outro ali, no
cinema é escuro e a tela não importa, só o lado,
o quente lateral, o mínimo pavio. A portadora deste
sabe onde me encontro até de olhos fechados;
falo pouco; encontre; esquina de Concentração com
Difusão,
lado esquerdo de quem vem, jornal na mão, discreta.
Nada, Esta Espuma
Por afrontamento do desejo
insisto na maldade de escrever
mas não sei se a deusa sobe à superfície
ou apenas me castiga com seus uivos.
Da amurada deste barco
quero tanto os seios da sereia..
19 de abril
Era noite e uma luva de angústia me afagava o
pescoço. Composições escolares rodopiavam,
todas as que eu lera e escrevera e ainda uma
multidão herdada de mamãe. Era noite e uma
luva de angústia... Era inverno e a mulher
sozinha... Escureciam as esquinas e o vento
uivando... Saí com júbilo escolar nas pernas,
frases bem compostas de pornografia pura,
meninas de saiote que zumbiam nas escadas
íngremes. Galguei a ladeira com caretas,
antecipando o frio e os sons eróticos povoando
a sala esfumaçada.

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