A Menina dos Campos de Arroz - Poética através de um filme

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Título original: La Rizière
Distribuição: Esfera
Data de estreia: 28/05/15
País: China/França
Gênero: drama
Ano de produção: 2010
Duração: 82 min.
Classificação: Livre


Direção: Xiaoling Zhu
Roteiro: Simon Pradinas, Xiaoling Zhu
Produção: Jean de Trégomain, Simon Pradinas, Xiaoling Zhu
Elenco: O. Xuexin, Shi Guangjin, Wu Shenming, Xiang Chuifen, Yang Xiaoyuan, Yang Yingqiu
Fotografia: Philippe Bottiglione
Montador: Pierre Haberer, Simon Pradinas, Xiaoling Zhu
Trilha Sonora: Bruno Coulais


Sinopse:

Em uma cidadezinha montanhosa no sul da China, onde se produz arroz, moram A Qiu, uma garotinha de 12 anos e seu irmão mais novo na casa de seus avós. A Qiu sonha se tornar escritora, estudar e viajar o mundo. Mas é de uma pobre família camponesa e seus avós são donos e camponeses de seus próprios campos de arroz. Seu avô além de fazer o plantio e colheita anual de arroz, também é engenheiro de sofisticados pagodes e pontes de madeira, o que o deixa certo tempo ausente de casa. Sua avó que executa os trabalhos domésticos e também os do campo, acaba morrendo em paz, com um leve sorriso nos lábios ao repousar.


Após a súbita morte de sua avó, seus pais retornam para trabalhar duro na plantação de arroz, fazendo de cada dia uma grande luta para sustentar a família, pois também foram demitidos de seus empregos na cidade grande. A Qiu, contente com a vinda de seus pais se dedica cada vez mais à seus estudos para vê-los orgulhosos, além de ajudar na plantação abdicando dias de aula para completar a única colheita do ano. 


Por fim, A Qiu faz um exame para ingressar em uma das melhores escolas secundárias, não passa, mas consegue uma ótima bolsa de estudos, da qual a família busca conseguir dinheiro suficiente para mandá-la estudar fora. Sua mãe que sempre adorara cantar, consegue eventos no vilarejo onde mora e reverte o dinheiro necessário para os estudos de sua filha, sendo assim o drama com cara de documentário é retratado sob a ótica de A Qiu em seu diário.

Vale a pena assistir?

Mas é claro que vale! Belíssimo filme da diretora Xiaoling Zhu, retrata a dualidade das prioridades de nosso contemporâneo, mostrando o árduo e bruto trabalho artesanal, como o de plantar e colher arroz e construir pagodes de madeira ainda são executados, porém pouco rentáveis, e o outro lado, representado pelo caso dos pais de A Qiu, que trabalhavam em construções civis na cidade grande em expansão, por conta de serem mais bem remunerados. 

Em pleno processo de dissolução do que já foi atualidade, o filme mostra como as sutilezas do cotidiano e cultura Dong devem ser memorados, pois ininterruptamente caminhará a favor dessa desfragmentação. Sendo assim, tão claro à narradora (A Qiu), o desejo de ser escritora tem como foco contar "como era a vida ali" e não o de grandes ambições de ascensão de classe social. Então, sussurra sob o papel em tom simples e melancólico a voraz modernidade que a faz começar os seus primeiros escritos.

Filme com uma magnifica fotografia da paisagem natural e atores não profissionais que são residentes do próprio vilarejo - o que somente o favorece; são opções já bem utilizadas pelo cinema italiano, se tornando mais um diferencial transgressor da modernidade em que nós buscamos atualmente, de filmes cada vez mais técnicos e parametrizadores de expressões, sentimentos e emoções. De forma natural e quase real este filme tem a sutileza como forma de prender a sua atenção.

Portanto, a dica vai acompanhada de um lindo poema:

“A poesia está guardada nas palavras — é tudo que eu sei.
Meu fado é o de não saber quase tudo.
Sobre o nada eu tenho profundidades.
Não tenho conexões com a realidade.
Poderoso para mim não é aquele que descobre ouro.
Para mim poderoso é aquele que descobre as insignificâncias (do mundo e as nossas).
Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil.
Fiquei emocionado.
Sou fraco para elogios.“
    (Manoel de Barros, Tratado Geral Das Grandezas Do Ínfimo - 2001)


·         Assista o Trailer aqui:


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